Há mais de 150 anos a higiene das mãos é a mais importante medida para o controle da contaminação hospitalar. Mas uma fonte de infecção tão importante como a boca vem sendo esquecida. Desde março, um trabalho pioneiro está sendo desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal Desembargador Leal Junior (HMDLJ), em Itaboraí. Uma equipe de cirurgiões-dentistas, em parceria com outros profissionais, desenvolve tratamento bucal em pacientes internados. Uma das principais funções da equipe odontológica é garantir que as infecções oportunistas da boca não atinjam órgãos vitais, como coração e pulmões. O objetivo é contribuir na prevenção da infecção hospitalar, principalmente a pneumonia, que ocorre durante o período de internação do paciente e provoca elevação nas taxas de mortalidade.
A ideia tem o apoio dos presidentes do Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro, Dr. Afonso Fernandes Rocha (da Comissão de Ética), e Dr. Francisco Soliano Julivaldo, e da Associação Brasileira de Odontologia Regional São Gonçalo, Dr. Paulo Alberto Nascimento, que também atua como coordenador do Programa de Saúde Bucal do município, que defendem a necessidade da assistência dos cirurgiões-dentistas nas UTIs de todos os hospitais e clínicas onde tenham pessoas internadas por um período prolongado. De acordo com eles, existe uma preocupação com colchões d’água, entre outros cuidados, mas esquecem que há pessoas que ficam meses internadas sem escovar os dentes.
Esta doença se dá em pacientes que respiram através de aparelhos e que, por isso, estão impedidos de fecharem a boca. Apesar de prevenir complicações na saúde, o serviço odontológico ainda é raro em UTIs. “O que a gente observa é que pacientes que ficam algum tempo dentro da Unidade de Terapia Intensiva, a partir do segundo dia, já começam a apresentar a boca contaminada por bactérias que produzem pneumonia. Uma higiene bucal deficiente em pacientes internados propicia uma maior presença de vírus, bactérias, fungos e parasitas, tornando a boca um ambiente favorável para o crescimento microbiano", explicam.
A equipe de cirurgiões-dentistas visita diariamente os leitos das UTIs realizando procedimentos de higiene bucal juntamente com os cuidadores dos pacientes. A remoção da placa bacteriana é feito com o uso de escova de dente própria, gaze, gluconato de clorohexidina e espátula de madeira. “O cuidado diário pode significar uma grande diferença no caso de pacientes com saúde mais frágil. Fazer tratamentos de limpeza dental periódica implica em uma boa escovação. Isso mantém a boca do indivíduo livre dos germes”, garante o cirurgião-dentista Carlos Alberto dos Santos, que atende na UTI do Hospital Municipal Desembargador Leal Junior.
Ruim para a boca e para o bolso
Para o secretário municipal de Saúde e Defesa Civil, Dr. Carlos Alberto Chaves, a presença de cirurgiões-dentistas na UTI contribui para desdobramentos que vão além da boca. “Por colaborar na prevenção de infecções hospitalares, principalmente as respiratórias, e contribuir para recuperação do paciente, os procedimentos de higiene bucal são benéficos não somente aos internados, mas também ao hospital, que tem seus custos reduzidos. A saúde bucal do paciente internado em UTI é um serviço barato, pois geralmente envolve processos simples e rápidos e ainda evita gastos maiores do hospital", ressalta.
O secretário lembra ainda que, enquanto tal procedimento é uma realidade no HMDLJ, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 2.776/2008, de autoria do Deputado Federal Neilton Mulim da Costa (PR-RJ), que trata da obrigatoriedade da presença de profissionais de odontologia na equipe multiprofissional das Unidades de Terapia Intensiva de clínicas e hospitais públicos e privados. O objetivo é cuidar da saúde bucal dos pacientes internados.